Se você cresceu nos anos 90 ou acompanhou o remake nos anos 2000, certamente lembra da Professora Helena, a doce educadora da novela Carrossel. Mais do que uma personagem de ficção, ela se tornou um símbolo: a professora que ama incondicionalmente seus alunos, sempre paciente, afetuosa e pronta para resolver qualquer problema.
Sumário
No entanto, quando olhamos para esse retrato com a lente pedagógica, surge uma pergunta importante: até que ponto esse comportamento inspira, e quando ele começa a atrapalhar?
Afinal, embora a Professora Helena seja lembrada com carinho, sua postura traz uma revelação: um modelo de docência romantizado que nem sempre corresponde aos desafios da vida real.
Vamos analisar melhor esse perfil e refletir sobre o que podemos (ou não) levar da ficção para a sala de aula?
O complexo de Professora Helena
Pode parecer curioso avaliar uma personagem de novela, mas a Professora Helena já foi até tema de TCC na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O trabalho, intitulado Complexo de Helena, concluiu que, apesar da dedicação e do afeto, a postura da educadora é excessiva e pode se tornar prejudicial.
Afinal, quando o carinho ultrapassa os limites pedagógicos, o professor pode perder a autoridade. Os alunos passam a enxergar o docente como um amigo ou confidente, confundindo os papéis em sala de aula.
Essa situação é perceptível em vários episódios da novela: desde quando Valéria “vira a cara” após a demissão de Helena até os momentos em que as crianças recorrem a ela para resolver questões pessoais.
O ponto aqui não é negar a importância do vínculo com os estudantes. Ele é essencial. Mas, quando esse vínculo se apoia apenas no afeto, sem a devida autoridade, abre-se espaço para falta de limites e até desrespeito às regras.
Professora Helena x professor mediador
Ao contrário da imagem idealizada da Professora Helena, o professor mediador busca equilibrar afeto e autoridade. Ele cria um ambiente acolhedor sem abrir mão da postura pedagógica.
Enquanto Helena tende a “facilitar demais” a vida dos alunos, resolvendo seus conflitos e assumindo um papel quase maternal, o mediador atua como guia: ajuda o estudante a encontrar soluções, mas não faz tudo por ele.
Essa diferença é fundamental. Quando o educador se coloca apenas como amigo, perde a oportunidade de ensinar responsabilidade, autonomia e resiliência. Já o mediador promove justamente esse crescimento, mostrando que aprender envolve também esforço, limites e a convivência com frustrações.
Ou seja, não se trata de negar a ternura da Professora Helena, mas de encontrar o ponto de equilíbrio. O bom professor é aquele que sabe quando acolher e quando impor, quando ouvir e quando conduzir com firmeza.
Proposta de intervenção
Se você se enxerga como uma Professora Helena, saiba que não precisa se culpar, pois não fez nada errado. Contudo, é importante trabalhar a diferença entre ser professor e amigo com os seus alunos. Abaixo, você encontra uma proposta de intervenção.
Ela ajuda os alunos a refletir sobre os diferentes papéis que cada pessoa exerce em suas vidas.
Dinâmica: “Professor ou amigo?”
Objetivo: demonstrar de forma lúdica e reflexiva a diferença entre o papel do professor e o de um amigo.
Público-alvo: Educação Infantil e Ensino Fundamental I.
Duração: 30 a 40 minutos.
Como jogar:
Peça para os alunos formarem uma roda e faça perguntas como:
- “O que um professor faz por vocês?”
- “O que um amigo faz por vocês?”
- “O professor pode ser um amigo?
- “O amigo pode ser professor?”
Registre as respostas no quadro ou em um cartaz.
Na sequência, prepare cartões com diferentes situações e pergunte aos alunos quem deve exercer aqueles papéis. Exemplo:
- “Corrigir atividades e ensinar conteúdos.”
- “Brincar no recreio e te convidar para lanchar em casa.”
- “Dar bronca quando você fizer algo errado, mas sempre querer o seu bem.”
- “Guardar segredos e contar piadas com você.”
- “Ajudar você a entender uma matéria difícil e incentivá-lo a estudar.”
- “Te emprestar brinquedos e dividir o lanche no intervalo.”
Anote essas respostas também.
Discuta e reflita:
Ao fim da dinâmica, converse com os alunos sobre as perguntas feitas por você e as respostas fornecidas por eles. Explique que um professor pode ser carinhoso e cuidadoso, mas que sua principal função é focar no aprendizado.
Deixe claro que, ao contrário dos amigos, os professores precisam estabelecer regras, cobrar responsabilidades e corrigir sempre que necessário. Também é importante destacar que a relação professor-aluno deve ocorrer apenas no ambiente escolar.
Sugestões de livros para melhorar a postura em sala de aula
A novela Carrossel deixa bem claro que o 3° ano foi a primeira turma fixa da Professora Helena. Isso justifica a inexperiência da educadora, que era muito mais coração do que razão. Se este for o seu caso, confira alguns livros para melhorar a postura em sala de aula.
O livro “Alegria para ensinar e transformar vidas” ensina o professor a transformar as aulas, tornando-as mais interessantes. Assim, mesmo sem assumir o papel de Professora Helena, é possível conquistar os alunos. Veja na Amazon
“A professora encantadora” é um livro infantil que narra a história da professora Maísa, que encantava os alunos com seu jeito único. Porém, ela não era considerada uma educadora que preparava os estudantes para o futuro. Veja na Amazon
Em “Pais brilhantes, professores fascinantes”, Augusto Cury traz reflexões para pais e professores compreenderem o seu papel na vida das crianças. O livro aborda a importância dos pais e dos professores em momentos diferentes da vida. Veja na Amazon
Por fim, o livro “Conversas com um jovem professor” traz experiências reais ocorridas em sala de aula para inspirar quem entrou agora na profissão. O autor deixa a teoria de lado e aborda a prática escolar. Veja na Amazon
Dicas de filmes para assistir sozinho ou com os alunos
Para finalizar, selecionei algumas sugestões de filmes para assistir sozinho ou com os alunos. Os três títulos abordam a importância da atenção aos detalhes que um professor deve ter.
Matilda – Disponível no Max, Apple TV e Prime Vídeo
Assim como na novela Carrossel, o filme “Matilda” mostra a relação entre professor e aluno e a importância de se atentar aos detalhes. Matilda, criança não vista em casa, é notada na escola. Veja o trailer aqui
Como estrelas na terra – Disponível no Google Play e YouTube
O filme “Como estrelas na terra” conta a história de um professor com visão sensível que conseguiu ajudar um aluno com dificuldades de aprendizagem. Devido ao seu lema de que “toda criança é especial”, ele ajudou o estudante a superar a dislexia. Veja o trailer aqui
O último vagão – Disponível na Netflix
Em “o último vagão”, uma professora leciona no trem para melhorar a vida de seus alunos. O filme retrata os diferentes métodos de educação e o relacionamento entre as crianças e a educadora. Veja o trailer
E então, você se considera uma Professora Helena?
A Professora Helena é um ícone da ficção e representa um modelo de professora que marcou gerações. Porém, na vida real, precisamos ir além da idealização. Ser educador não é assumir o papel de “mãe da turma”, mas sim o de um profissional que equilibra afeto e autoridade.
E você, já tinha parado para pensar nesse paralelo entre a Helena da novela e a prática em sala de aula? Conta aqui nos comentários como enxerga essa comparação e compartilhe este texto com outros colegas professores para ampliarmos esse debate!
Boa aula e até a próxima semana!

Formada em Letras, pedagogia e artes visuais. Escreve desde a adolescência e acredita que palavras modificam as pessoas e mudam o mundo.